4 de out. de 2010

Artigo

Pessoal, eu achei muito interessante esse artigo de Cristovão Tezza, e decidi postar. Quem quiser pode acessar o link do jornal Gazeta do Povo do dia 24/08/10. E aí vai...


Esquerda, direita e nada

O conceito político de "esquerda" nasceu nos movimentos sociais e econômicos que acabaram por levar à Revolução Francesa. Sentavam-se à esquerda do rei os representantes do chamado "Terceiro Estado" - a burguesia, os artesãos, os plrbeus urbanos, cada vez mais importantes na produção de riquezas, contrapondo-se ao clero e à nobreza, antigos baluartes do poder real. Com a esquerda, nasceu o Estado moderno, laico, popular, que gradativamente foi tirando os privilégios da nobreza, esvaziando o poder do rei e dando ao clero só o que é do clero. A figura do clássico "burguês", portanto, o individualista que pôs a girar a máquina do capital, é em sua origem o primeiro "esquerdista".

Confrontada com as injustiças brutais do capitalismo nascente da Revolução Industrial, a esquerda política ganhou uma espécie de "aura moral", já não mais em defesa da liberdade e da igualdade abstrata dos indivíduos, o seu motor iluminista primeiro, mas a serviço do controle férreo do Estado, agora "cientificamente" laico, como a máquina soviética. No século 20, esquerda e direita embaralharam-se, cumprindo papéis distintos como coringas de histórias socioeconômicas diferentes; mas a esquerda curiosamente jamais perdeu entre nós a sua aura sagrada, por mais trágicas e violentas que tenham sido suas realizações concretas. O sonho de uma utopia estatal provendo igualitariamente o pão e a justiça mostrou-se, na Europa, capaz apenas de criar Estados totalitários controlados por máfias político-policiais, em territórios já assombrados pelo pesadelo nazista, pelo espírito racista e por facismos variados. No Oriente, onde a "razão iluminista" não chegou, as ditaduras de todo tipo apenas prologam modelos acaicos tribais, imperiais e religiosos que se perdem no tempo.

Na américa Latina, a esquerda gerou a ruína patética de Cuba, mas sua aura intocável ganhou força e legitimidade pela profusão de ditaduras militares de direita a serviço da Guerra Fria e do controle americano do mundo. Che Guevara é o símbolo psicológico daqueles tempos. Mas a queda do Muro e a dissolução das ditaduras latino-americanas deixaram a clássica esquerda numz deriva curiosa. A única coisa que parece definir "esquerda", hoje, é o amor ao estalinismo; do ponto de vista técnico, o ditador Ernesto Geisel, por exemplo, seria "de esquerda". O que não é de estranhar: o capitalismo de Estado, que avança até onde o braço alcança, é uma profunda vocação brasileira desde o Império. Em nome do controle da máquina, a "esquerda", impávida, incorpora figuras historicamente sem nenhuma espinha dorsal.
É uma felicidade: no Brasil, somos todos, por cacoete retórico, "de esquerda". Como bem sabe e explora Lula, o primriro gênio populista da esuqerda brasileira, que vem reduzindo a farelo a nitidez eventual que ela ainda mantinha no país.

Um comentário:

Unknown disse...

A esquerda, que sempre foi considerada errada desde as mais antigas crenças do homem, nasceu e existe porque também existe a necessidade do homem e da sociedade evoluírem.